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sábado, 29 de janeiro de 2011

Venenos de Deus, Remédios do Diabo

Este foi o primeiro livro que li de Mia Couto, uma leitura à muito adiada mas que sinto ter feito no momento indicado, afinal o dedo aponta sempre para o livro certo.
Uma escrita muito diferente daquela a que estou habituada, uma escrita sentida uma leitura muito saborosa, uma escrita poetica. Ler Mia Couto foi algo que nunca pensei ser assim tão diferente, os diálogos são sem sombra de dúvida o ponto mais alto deste livro, gostei muito do modo como as personagens  se inter-relaccionam ao longo do livro.
O jovem médico Sidónio em busca da sua amada Deolinda e  os pais desta que são um casal muito engraçado e peculiar que vive na Vila Cacimba. Bartolomeu Sozinho o pai de Deolinda, foi outrora mecânico do transatlântico Infante D. Henrique, deixando sua esposa Munda em terra durante longos períodos de tempo. Ao longo desta leitura julgo ter conseguido sentir todas as mudanças de espírito que o doutor vindo de Portugal foi sentindo na sua estadia em Vila Cacimba. O modo como Mia descreve o ambiente e nos mostra os diálogos entre estas personagens é fabuloso. Descobri uma nova forma literária e gostei muito. Um escritor  que, sem sombra de dúvida, quero repetir.Por agora devo dizer  que adorei este livro e consegui viajar ao longo da sua leitura, o que   é o melhor que os livros nos podem proporcionar, a sensação de viagem no espaço e no tempo. Tenho a certeza que quero seguir  Mia Couto gostei muito mesmo muito desde seu livro. Foi para mim uma maravilhosa descoberta.

Alguns excertos:
"Todavia, o mar é o habilidoso desenhador de ausências." (retirado da pág.21)
"Enche a peneira do arroz. Vai catando os grãos, com a lentidão de uma carícia. Escuta-se o ribombar de um trovão, as cigarras suspendem o canto. O silêncio, um segundo, fica maior que a savana. Depois, aos poucos, os insectos regressam ao estridente concerto." (retirado da pág.33)
..."é a nossa despedida, nós temos que confundir a tristeza..."(retirado da pág.162"

Agora entendo o que li na revista "Os Meus livros":
«Mia Couto não precisa de apresentações. Um contador de estórias nato, como o são os ancião africanos cheios de vivências próprias e alheias, as suas obras são já tão conhecidas como a sua escrita - o português reinventado que tão facilmente nos faz deslizar para os contextos e enredos criados (...) Mia Couto não desilude, o romance - mulato e anfíbio - prende da primeira à última palavra liberto de preconceitos extremados nos quais tantas vezes procuramos a seguranças das nossa leituras e dos nossos dias.»

Ana Vaz Pinto

Aconselho vivamente ;)

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