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sexta-feira, 14 de maio de 2021

97 # Opinião | "Pessoas Normais" de Sally Rooney

 

Sinopse:
"Connell e Marianne cresceram na mesma pequena cidade da Irlanda, mas as semelhanças acabam aqui. Na escola, Connell é popular e bem-visto por todos, enquanto Marianne é uma solitária que aprendeu com dolorosas experiências a manter-se à margem dos colegas. Quando têm uma animada conversa na cozinha de Marianne — difícil, mas eletrizante —, as suas vidas começam a mudar.
Pessoas Normais é uma história de fascínio, amizade e amor mútuos, que acompanha a vida de um casal que tenta separar-se mas que acaba por entender que não o consegue fazer. Mostra-nos como é complicado mudar o que somos. E, com uma sensibilidade espantosa, revela-nos o modo como aprendemos sobre sexo e poder, desejo de magoar e ser magoado, de amar e ser amado." retirado do Goodreads


Opinião:
As personagens principais deste "romance" são a Marianne e o Connell, eles conhecem-se na escola secundária, que pelo que dá a entender é um colégio, onde os dois estudam no último ano (correspondente ao 12.º ano, em portugal). Eles vivem numa cidade do interior da Irlanda, Marianne é uma jovem oriunda de uma família abastada, mas completamente disfuncional, o irmão é muito violento com ela e a mãe, enfim...
Connell é o filho da empregada da família de Marianne, contudo é criado com um amor muito grande.
Marianne é uma rapariga que se isola na escola, com dificuldade de se relacionar com os colegas, aliás eu acho que ela nem se importa muito com isso. Por outro lado, Connell é o astro da equipa de futebol, muito popular e sempre rodeado de amigos. 
Eles começam a encontrar-se na casa de Marianne, pois o Connell vai sempre buscar a mãe e entra na casa, começando assim a conversar com a Marianne, contudo na escola, apesar de fazerem parte da mesma turma não se falam...existindo quase que um pacto de silêncio. Mas contudo, será de salientar que eles estão cada vez mais próximos fisicamente, sexualmente.
Este livro salienta um, entre vários aspetos muito importantes, que é o apelo à comunicação entre as pessoas, isto é abordado no livro através das consequências pela falta de comunicação verbal entre as duas personagens principais. 

A escritora formou um enredo de tal forma que os mal entendidos, o que não se verbaliza e os "barulhos" entre os dois fiquem cada vez mais claros para mim como leitora. Ou seja, à medida que lia conseguia visualizar tudo isso. Os personagens tentam conversar mas acabam por não conseguir expressar os seus sentimentos, aceitar o amor que sentem um pelo outro. Isto, não tira o facto de eles serem muito chegados tanto emocionalmente como fisicamente...sempre que um precisa o outro está lá. Ao longo do livro temos a transição da adolescência para a vida adulta, muitas situações de bullying, o assédio sexual, a falta de amor próprio que muitas vezes  leva para lugares obscuros, decisões não pensadas e riscos totalmente desnecessários. Marianne e Connell também não conseguem evitar esse caminho, acabando por estar constantemente a magoarem-se mutuamente e a eles próprios. Aceitando também que os outros os magoem, isto tudo, pela falta de amor próprio e falta de respeito pelo seu próprio corpo, mas também pela necessidade de serem aceites pelos outros e pelos próprios.

Sally Rooney encontra no primeiro amor, com seus desencontros, desencantos e dificuldades, o caminho para escrever um livro muito bom, que me fez querer dar uns berros às personagens, pela forma como elas se magoam a elas mesmas e um ao outro. Numa leitura que atrai e repele ao mesmo tempo, Rooney consegue mostrar que nem todos os romances são cliches.

Esta leitura foi para mim um autêntico murro no estômago. Desengane-se quem pensa que vai ler um livro cor de rosa. Temos abordagem a temas delicados como a saúde mental e o suicídio.

"Havia o quarto com casa de banho anexa atrás dele, e a cama, à sua frente, ambos bem visíveis, mas por qualquer motivo, foi-lhe impossível deslocar-se para a frente ou para trás, só para baixo, para o chão, até o seu corpo ficar imóvel sobre a carpete. Bem, aqui estou eu no chão, pensou. Será a vida pior aqui do que seria na cama, ou mesmo num sítio diferente? Não, é exatamente igual. A vida é o temos dentro da nossa cabeça." pág. 178

Classificação de 5 estrelas no Goodreads.

Boas leituras!

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